Wednesday, December 12, 2012

Breve história do sinal nervoso - I

 
BREVE HISTÓRIA DA SINALIZACAO NERVOSA-I
Pitágoras (579-496 a.C), Hipócrates(460-370 a.C.) e Platão (427-347 a.C.) consideravam o cérebro a parte mais nobre do corpo humano, ao contrario de Aristóteles (384-322 a.C.) para quem este lugar pertencia ao coração. Galeno (ca 130-200 d.C.) demonstrou que o cérebro era o órgão central da percepção. Também observou os ventrículos cerebrais e, como estas cavidades apareciam vazias, pensou que só continham algo parecido ao ar. Acreditou que tanto os nervos que partiam do cérebro como os que chegavam a ele iam parar nos ventrículos. Postulou que os nervos eram ocos e, como os vasos sanguíneos, formavam um sistema canalicular. Os movimentos musculares e as expressões emocionais partiriam dos ventrículos e seu conteúdo volátil foi denominado spiritus animalis (espírito vital). Durante séculos, esta concepção manteve-se vigente de maneira irrefutável porque a investigação anatômica no corpo humano era proibida.
Com o Renascimento se retomou a investigação. Leonardo da Vinci (1452-1519) fez os primeiros desenhos realistas dos ventrículos cerebrais. Mais tarde, Rene Descartes (1596-1650), no contexto mecanicista de sua época, concebeu o spiritus animalis como um sopro sutil proveniente dos nervos sensoriais e vertido nos ventrículos. Dai alcançariam um órgão central do cérebro, a glândula pineal, lugar onde se encontrariam o corpo, de natureza mecânica (res extensa), com a alma imaterial (res cogitans). Os impulsos de vontade da alma originariam, a partir dos ventrículos e da glândula pineal, uma corrente de spiritus animalis que se dirigiria pelos nervos motores aos músculos. Desta maneira, ao sentir calor excessivo, o um membro se afasta de forma reflexa. Descartes considerava que um sistema mecanicista que pretendia explicar os fenômenos sensoriais e motores da natureza teria necessariamente que ser muito complexo.
Giovanni Borelli (1608-1679) realizou experimentos que mostraram que o spiritus animalis não poderia ser de natureza gasosa. Concluiu que seria um líquido, o succus nerveus. Jan Swammerdam (1637-1680) refutou a teoria cartesiana de que o spiritus animalis era bombeado dos ventrículos aos músculos resultando uma contração, Mostrou que o volume muscular não aumentava durante a contração. Se o spiritus animalis. fosse líquido ou gasoso o aumento teria que acontecer. Alexander Monro (1697-1767) experimentou com vários tipos de nervos de animais vivos e não encontrou nenhum vestígio de spiritus animalis. Tal como Isaac Newton (1643-1727),  Monro sabia que um gás ou líquido não poderiam mover-se com a rapidez necessária através de túbulos com o calibre dos nervos. Newton pensou que seria a vibração dos filamentos contidos nos nervos o que provocaria a ação do spiritus animalis. Nesta época se chegaram a muitas conclusões contraditórias.O inventor do microscópio Antoni van Leeuwenhoek (1632-1723) acreditou ter visto que os nervos eram realmente ocos. Luigi Galvani (1737-1798) descarregando corrente elétrica no nervo ciático de uma rã provocava contraturas musculares. Isto não provava que o spiritu animalis fosse a eletricidade porque outros estímulos químicos e mecânicas também provocavam contraturas dos músculos. Mais tarde Carlo Matteucci (1811-1868) desenvolveu um aparelho com sensibilidade suficiente para medir as correntes elétricas em um músculo. Finalmente Emil Du Bois-Reymond (1818-1896) descreveu em 1843 a corrente que percorre os nervos como consequência de um estímulo elétrico. Seis anos mais tarde demonstrou que esta corrente se produzia também por estímulos químicos. Ao longo do século XIX a qualidade dos microscópios e das preparações de amostras de tecidos foram permitindo novas descobertas. Otto Deiters (1834-1863) conseguiu ver que do corpo da célula nervosa partiam prolongações protoplasmáticas e um cilindro eixo, mais tarde denominados dendritos e axônio. Wilhelm von Waldeyer-Hartz (1836-1921) sugeriu em 1891 o nome de neurônio para este tipo de célula.
 
Extraído de:
Illing, R.B. De la trepanación a la teoría de la neurona. (Cuadernos Mente y Cerebro, 2012).