Breve história do sinal nervoso - I
BREVE HISTÓRIA DA SINALIZACAO
NERVOSA-I
Pitágoras (579-496 a .C), Hipócrates(460-370 a .C.) e Platão (427-347 a .C.) consideravam o cérebro
a parte mais nobre do corpo humano, ao contrario de Aristóteles (384-322 a .C.) para quem este
lugar pertencia ao coração. Galeno (ca 130-200 d.C.) demonstrou que o cérebro
era o órgão central da percepção. Também observou os ventrículos cerebrais e,
como estas cavidades apareciam vazias, pensou que só continham algo parecido ao
ar. Acreditou que tanto os nervos que partiam do cérebro como os que chegavam a
ele iam parar nos ventrículos. Postulou que os nervos eram ocos e, como os
vasos sanguíneos, formavam um sistema canalicular. Os movimentos musculares e
as expressões emocionais partiriam dos ventrículos e seu conteúdo volátil foi
denominado spiritus animalis (espírito vital). Durante séculos, esta concepção manteve-se
vigente de maneira irrefutável porque a investigação anatômica no corpo humano era
proibida.
Com o Renascimento se retomou a investigação.
Leonardo da Vinci (1452-1519) fez os primeiros desenhos realistas dos ventrículos
cerebrais. Mais tarde, Rene Descartes (1596-1650), no contexto mecanicista de
sua época, concebeu o spiritus animalis como um sopro sutil proveniente dos
nervos sensoriais e vertido nos ventrículos. Dai alcançariam um órgão central
do cérebro, a glândula pineal, lugar onde se encontrariam o corpo, de natureza mecânica
(res extensa), com a alma imaterial (res cogitans). Os impulsos de vontade da
alma originariam, a partir dos ventrículos e da glândula pineal, uma corrente
de spiritus animalis que se dirigiria pelos nervos motores aos músculos. Desta
maneira, ao sentir calor excessivo, o um membro se afasta de forma reflexa.
Descartes considerava que um sistema mecanicista que pretendia explicar os fenômenos
sensoriais e motores da natureza teria necessariamente que ser muito complexo.
Giovanni Borelli (1608-1679)
realizou experimentos que mostraram que o spiritus animalis não poderia ser de
natureza gasosa. Concluiu que seria um líquido, o succus nerveus. Jan Swammerdam
(1637-1680) refutou a teoria cartesiana de que o spiritus animalis era bombeado
dos ventrículos aos músculos resultando uma contração, Mostrou que o volume
muscular não aumentava durante a contração. Se o spiritus animalis. fosse líquido
ou gasoso o aumento teria que acontecer. Alexander Monro (1697-1767)
experimentou com vários tipos de nervos de animais vivos e não encontrou nenhum
vestígio de spiritus animalis. Tal como Isaac Newton (1643-1727), Monro sabia que um gás ou líquido não poderiam
mover-se com a rapidez necessária através de túbulos com o calibre dos nervos.
Newton pensou que seria a vibração dos filamentos contidos nos nervos o que
provocaria a ação do spiritus animalis. Nesta época se chegaram a muitas
conclusões contraditórias.O inventor do microscópio Antoni van Leeuwenhoek
(1632-1723) acreditou ter visto que os nervos eram realmente ocos. Luigi Galvani
(1737-1798) descarregando corrente elétrica no nervo ciático de uma rã
provocava contraturas musculares. Isto não provava que o spiritu animalis fosse
a eletricidade porque outros estímulos químicos e mecânicas também provocavam
contraturas dos músculos. Mais tarde Carlo Matteucci (1811-1868) desenvolveu um
aparelho com sensibilidade suficiente para medir as correntes elétricas em um músculo.
Finalmente Emil Du Bois-Reymond (1818-1896) descreveu em 1843 a corrente que percorre
os nervos como consequência de um estímulo elétrico. Seis anos mais tarde
demonstrou que esta corrente se produzia também por estímulos químicos. Ao
longo do século XIX a qualidade dos microscópios e das preparações de amostras
de tecidos foram permitindo novas descobertas. Otto Deiters (1834-1863)
conseguiu ver que do corpo da célula nervosa partiam prolongações protoplasmáticas
e um cilindro eixo, mais tarde denominados dendritos e axônio. Wilhelm von Waldeyer-Hartz
(1836-1921) sugeriu em 1891 o nome de neurônio para este tipo de célula.
Extraído de:
Illing, R.B. De la trepanación a la teoría de
la neurona. (Cuadernos Mente y Cerebro, 2012).
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