Wednesday, September 26, 2012

Resposta biológica dos receptores adrenérgicos ao stress


Os receptores que recebem a ação da norepinefrina e da epinefrina se chamam receptores adrenérgicos. Podem ser de tipo alfa ou beta. Estão identificados os subtipos alfa1, alfa2, beta1, beta2 e beta3.
Revisaremos a ação de cada receptor nos diferentes tecidos, em situação de stress agudo, quando o Sistema Nervoso Central  ativa o Sistema Nervoso Autônomo.
Principio geral: os órgãos que ajudam o organismo numa situação aguda de stress (fugir ou lutar) devem ser ativados; os órgãos que não ajudam devem ser inibidos.
Abaixo, apresento uma lista de tecidos identificando os receptores ativados em situação aguda de stress:
Cabelos: no stress os cabelos se eriçam por contração do músculo pilus erector. O receptor adrenérgico ativado é o alfa1.
Olhos: o músculo dilatador da pupila se contrai e a pupila se dilata: os receptores são alfa1. Já o músculo ciliar se relaxa e a lente se alonga, acomodando-se para visão ao longe: os receptores são beta2.
Trato gástrico-intestinal: os músculos lisos longitudinais, responsáveis pelos movimentos peristálticos, devem ser inibidos: tem receptores beta2. Os músculos circulares que controlam os esfíncteres devem contrair-se: os receptores são alfa1. Já os vasos sanguíneos do sistema têm receptores alfa1 porque devem contrair-se.
Glândulas salivares: inibição por estímulo dos receptores alfa2  (boca seca).
Artérias mesentéricas: devem aportar menos sangue aos órgãos; seus músculos lisos se contraem; os receptores são alfa1.
Sistema respiratório: Por estimulação simpática, o Sistema Nervoso Central ativa o centro respiratório porque se necessita mais O2 e maior remoção de CO2. Os brônquios devem dilatar-se, seus músculos lisos devem relaxar-se e, portanto, seus receptores adrenérgicos são beta2. Já os vasos dos brônquios devem-se contrair para evitar hiperemia: seus receptores são alfa1. Os receptores beta1 no trato gástrico-intestinal são, caso excepcional, relaxantes.
Coração: a situação de stress requer maior débito cardíaco, ou seja maior volume sistólico e maior frequência cardíaca. Os receptores são beta1 nos nódulos Sinusal e Atrio—Ventricular, nas células de Purkinje e no miocárdio. Quando se estimula  o nódulo sinusal a autonomicidade (formação de impulso) e a velocidade de contração  (cronotropia) aumentam. O estímulo do nódulo átrio-ventricular resulta em velocidade aumentada (dromotropia +). O estímulo do miocárdio aumenta a força da contração (ionotropia +).
Musculatura lisa do sistema vascular. Pele: contração dos vasos: receptor alfa1. Trato gástrico-intestinal: vaso constrição: alfa1. Rins: vaso constrição: alfa1. Musculatura esquelética: vasodilatação: receptores beta2 . Os brônquios tem receptores beta2 porque necessitam dilatar-se mas a musculatura lisa de seus vasos tem receptores alfa1 para contrair-se e evitar hiperemia.
Circulação cerebral e circulação coronária: são tão importantes que não se regulam pelo Sistema Nervoso Autônomo; são autorreguladas por metabólitos provenientes de suas próprias células. Tem quantidades equiparáveis de receptores alfa1 e beta2.
Metabolismo. Fígado: através da estimulação de receptores beta2 se inibe a glicólise, com aumento da glicogenólise e consequente glicemia. Adipócitos: há estímulo de receptores beta3 com aumento da enzima lípase, resultando lipólise por desdobramento de triglicerídeos à ácidos graxos. Nos músculos esqueléticos os receptores beta2 inibem a passagem de glicose a glicogênio para manter alta a glicose. Aqui aparece uma exceção. Os mesmos receptores beta2 que inibem a formação de glicogênio a partir da glicose, estimulam a enzima ATPase, com transporte de potássio para dentro da célula. Os fusos musculares com demasiada  estimulação simpática perdem sua capacidade de regular as contrações musculares e se produzem tremores. Pâncreas: ativam-se os receptores alfa2 com inibição da liberação de insulina e aumento de secreção de glucagon.
Sistema urinário-genital: os músculos lisos do útero tem predominância de receptores alfa1 na mulher não grávida; na grávida predominam os receptores beta2. A estimulação simpática provoca relaxação do miométrio para não prejudicar o feto. A ereção masculina e a secreção feminina são estimuladas pelo sistema parasimpático; a ejaculação masculina e o orgasmo feminino pelo sistema simpático (mas também entram outros neurotransmissores). Na bexiga urinária, o músculo detrusor se relaxa: tem receptores beta2 predominando sobre os alfa1. O esfíncter urinário interno se contrai: os receptores são alfa1. Quando uma pessoa se urina em situação de stress é porque ocorreu uma disfunção do Sistema Nervoso Autônomo. Nos rins, a porção juxtaglomerular necessita ativar-se para produzir mais renina: seus receptores são beta1. Com a consequente liberação de aldosterona mais água e sódio são retidos.
Glândulas sudoríparas: os receptores alfa1 são ativados e se produz suor.
Durante exercício físico: os receptores alfa1dos vasos sanguíneos podem ser seletivamente bloqueados pela atividade nervosa simpática, permitindo aos receptores beta2 ( que provocam vasodilatação) dominar. Notar que somente os alfa1 nos músculos ativos são bloqueados.  Nos músculos inativos estes receptores permanecem estimulados com  resultante vaso constrição.