Monday, May 01, 2017

História do Glicogênio

A primeira evidência do isolamento do glicogênio data de 21 de março de 1857, quando Claude Bernard comunicou em Paris que havia identificado as propriedades físicas e químicas de uma substância isolada de tecido hepático.

Este pesquisador, realizando experimentos com cães, verificou que estes animais, alimentados durante sete dias com dieta contendo carbo-hidratos e sacrificados logo após a ingestão, mostravam açúcar tanto na veia porta como na veia hepática. Isto, por razões óbvias, não constituiu surpresa. Esta apareceu quando animais alimentados apenas com carne não apresentaram hidratos de carbono no estômago, nos intestinos, nem na veia porta e sim, em abundantes quantidades, na veia hepática. O pesquisador concluiu que o fígado tinha o poder de produzir açúcar. Além disso, ele verificou que o extrato de fígado dos cães alimentados somente com carne continha muito açúcar. O mesmo não acontecia nos extratos de outros órgãos onde o açúcar estava ausente.

O açúcar encontrado na veia hepática foi identificado como glicose. Claude Bernard concluiu que o fígado produz ou secreta glicose, e decidiu investigar a origem deste fenômeno.

O acaso o levou a uma descoberta. Ele sempre realizava duas titulações do açúcar presente nos extratos de fígado. Um dia, por falta de tempo somente uma determinação foi feita, logo após a morte do animal. A segunda titulação foi feita no dia seguinte e deu valores muito mais altos de glicose. O passo do tempo influencia a produção de açúcar. Repetidos experimentos mostraram que minutos após a morte de um animal os níveis de açúcar já aumentavam. Ao cabo de duas horas aparecia grande quantidade. Bernard também verificou que injetando uma corrente de agua na circulação sanguínea de fígados recém-extraídos, desaparecia o açúcar, que surgia em grandes quantidades após poucas horas de repouso destes fígados em temperatura moderada. Com isto, ficou demonstrado em 1855 que a glicose era formada a partir de materiais existentes no fígado.

A seguir, muitos investigadores tentaram identificar qual seria a substância, ou substâncias, precursoras da glicose. Foi o próprio Claude Bernard quem dois anos depois isolou este composto que denominou de “la matière glycogène”.

Referência: F. G. YOUNG, D.Sc., Ph.D., F.R.S.
Departamento de Bioquímica da Universidade de Cambridge

British Medical Journal, 22 de junho 1957.