Friday, March 03, 2017

Quantidade Mínima de Exercício

Existe um limiar de intensidade necessário para melhorar a capacidade cardiorrespiratória e reduzir os riscos cardíaco-metabólicos?

Em publicação recente, Carol Ewing Garber e colaboradores divulgaram um posicionamento destinado como guia para a prescrição de exercício físico para adultos, aparentemente sadios, de todas as idades. Este documento substitui o posicionamento do Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM, sigla em inglês) datado de 1998.

Muitas novidades aparecem nesta atualização. Uma delas se refere à existência ou não de um limiar de intensidade de treinamento necessário para melhorar a capacidade cardiorrespiratória, e ao mesmo reduzir os riscos cardíacos e metabólicos dos praticantes de atividades físicas regulares. O que segue é um resumo do ponto de vista dos autores sobre o tema.

Conforme o princípio de treinamento por sobrecarga, todo o exercício executado abaixo de uma intensidade mínima não desafia o organismo em forma suficiente para aumentar o VO2 máximo e provocar melhorias em outros parâmetros fisiológicos. Nem todos os estudos apontam a um mesmo nível mínimo de atividade que seria benéfico. Esta falta de consistência pode estar determinada pelos diferentes estados de condicionamento físico dos indivíduos participantes, no momento de inicio dos estudos. Tudo indica que quanto melhor é o condicionamento físico de um atleta, mais alto é o limiar de intensidade de exercício necessário para conseguir melhora em seu VO2 máximo.  Faltam estudos para determinar o mesmo se aplica aos não atletas.

Ainda mais escassos são os dados existentes sobre o limiar de intensidade de exercício necessário para modificar favoravelmente outros fatores de risco metabólicos, tais como mudanças nos níveis de colesterol HDL, colesterol LDL e, triglicerídeos. Tampouco existem muitos estudos avaliando a pressão arterial, a intolerância à glicose e a resistência à insulina.

Vários trabalhos sugerem que a intensidade de exercício não influencia a perda de peso nem o acúmulo de gordura, mas estas conclusões estão limitadas pela variabilidade no volume dos exercícios executados e por outros fatores de confusão. 

Um estudo com participantes sedentários que passaram a caminhar três vezes por semana em sessões de 10000 passos, em ritmo livremente escolhido por cada um, resultou em melhorias no perfil de lipo proteínas e na expressão de genes envolvidos no transporte reverso de lipídeos, sem nenhuma alteração no peso corporal ou na graxa total.  Além disso, um estudo de 16 pares de gêmeos do mesmo sexo, com padrões discordantes de atividade física, mostrou que volumes maiores de exercício estavam associados a uma menor existência de gordura nas vísceras, fígado, músculos bem como a menor quantidade de gordura total. Cada gêmeo ativo tinha em geral 50% menos gordura visceral e 25% menos gordura abdominal subcutânea, comparado ao seu irmão gêmeo sedentário.

 O efeito de curto prazo do exercício sobre a saúde mental, especialmente sobre a depressão, pode ser uma função da intensidade do treinamento, embora um limiar específico não tenha sido identificado. Existe alguma indicação de que o maior benefício deriva de uma atividade igual ou superior a 17,5 kcal por kg por semana.

Referência:
Quantity and Quality of Exercise for Developing and Maintaining Cardiorespiratory, Musculoskeletal, and Neuromotor Fitness in Apparently Healthy Adults: Guidance for Prescribing Exercise

Garber, Carol Ewing Ph.D., FACSM, (Chair); Blissmer, Bryan Ph.D.; Deschenes, Michael R. PhD, FACSM; Franklin, Barry A. Ph.D., FACSM; Lamonte, Michael J. Ph.D., FACSM; Lee, I-Min M.D., Sc.D., FACSM; Nieman, David C. Ph.D., FACSM; Swain, David P. Ph.D., FACSM