História da ciência do exercício na segunda metade do século XX - Parte 2
No século
XIX achava-se que a energia necessária para a atividade muscular procedia das
proteínas até que em 1907 Fletcher observou que nos músculos fatigados havia acumulação
de ácido lático. Mais tarde, Meyeroff descobriu que existe uma relação fixa
entre consumo de oxigênio e metabolismo de ácido lático nos músculos. Em 1930
Lundsgaard observou que a inibição da glicólise por ação do acido monoacético
sobre a 3-gliceroaldeido desidrogenase não impede que o músculo, ainda assim,
possa trabalhar em forma anaeróbica, sem formação de acido lático. Ele também
mostrou que existe uma relação linear entre trabalho mecânico e a quantidade de
fosfato liberado da fosfocreatina. A partir dos 30, os pesquisadores passaram a
identificar gradualmente as fontes fornecedoras de ATP para a contração
muscular. Hoje se sabe que existem grandes diferenças nas fontes de combustível
utilizadas por músculos treinados e músculos sedentários, tanto durante como após
o trabalho físico.
Para entender como os músculos esqueléticos se
adaptam a atividade, a ciência do exercício utiliza a bioquímica, a
histoquímica, os isótopos metabólicos, a ressonância magnética e outras
tecnologias. Atualmente, técnicas de biologia molecular ajudam a elucidar a
expressão dos genes importantes envolvido nestes processos musculares de
adaptação ao trabalho físico.
Na segunda
metade do século XX se detectou que o treinamento de resistência aumenta a
capacidade dos músculos esqueléticos em remover do plasma a glicose, os ácidos
graxos livres e os triglicerídeos. Como se sabe, uma exposição excessiva a
estes metabólitos exerce uma influencia negativa em uma variedade de tecidos.
Por isso, hoje se diz que os músculos treinados funcionam como um dreno para
eliminar metabólitos associados com diabetes, hipertensão e doença das
coronárias.
Desde 1960
se sabe que o exercício reduz os triglicerídeos plasmáticos graças a uma ação
aumentada da lípase lipoproteína muscular; e que a contração muscular ao
recrutar transportadores de glicose GLUT-4 aumenta a utilização de glicose em
forma independente da ação da insulina.
A
investigação cientifica mostra que a atividade física, é efetiva em prevenir ou
tratar algumas das doenças mais comuns que afetam a humanidade no último terço
do século XX. O treinamento de resistência, por exemplo, é muito eficaz na
redução dos níveis plasmáticos de triglicerídeos, glicose e ácidos graxos
livres. Entretanto, muitos dos
mecanismos envolvidos na adaptação dos músculos esqueléticos ao exercício não
estão elucidados. Inúmeros sinais fisiológicos e bioquímicos se alteram durante
o exercício e desconhecemos os fatores regulatórios que modulam a expressão dos
genes que respondem ao exercício. Por isso é importante que a pesquisa
científica se mova mais alem dos estudos de correlação e trate de melhor identificar
os mecanismos de ação envolvidos na adaptação dos músculos esqueléticos à
atividade física. Estas adaptações metabólicas dos músculos esqueléticos ao
exercício físico talvez sejam um componente crítico para a prevenção da
diabetes tipo II, das doenças coronarianas e da obesidade.
Ref: Marc T. Hamilton and Frank w. Booth. J.
Appl. Physiol. 88: 327 - 331
<< Home