Monday, August 11, 2014

História da ciência do exercício na segunda metade do século XX - Parte 2

 No século XIX achava-se que a energia necessária para a atividade muscular procedia das proteínas até que em 1907 Fletcher observou que nos músculos fatigados havia acumulação de ácido lático. Mais tarde, Meyeroff descobriu que existe uma relação fixa entre consumo de oxigênio e metabolismo de ácido lático nos músculos. Em 1930 Lundsgaard observou que a inibição da glicólise por ação do acido monoacético sobre a 3-gliceroaldeido desidrogenase não impede que o músculo, ainda assim, possa trabalhar em forma anaeróbica, sem formação de acido lático. Ele também mostrou que existe uma relação linear entre trabalho mecânico e a quantidade de fosfato liberado da fosfocreatina. A partir dos 30, os pesquisadores passaram a identificar gradualmente as fontes fornecedoras de ATP para a contração muscular. Hoje se sabe que existem grandes diferenças nas fontes de combustível utilizadas por músculos treinados e músculos sedentários, tanto durante como após o trabalho físico.
 Para entender como os músculos esqueléticos se adaptam a atividade, a ciência do exercício utiliza a bioquímica, a histoquímica, os isótopos metabólicos, a ressonância magnética e outras tecnologias. Atualmente, técnicas de biologia molecular ajudam a elucidar a expressão dos genes importantes envolvido nestes processos musculares de adaptação ao trabalho físico.
Na segunda metade do século XX se detectou que o treinamento de resistência aumenta a capacidade dos músculos esqueléticos em remover do plasma a glicose, os ácidos graxos livres e os triglicerídeos. Como se sabe, uma exposição excessiva a estes metabólitos exerce uma influencia negativa em uma variedade de tecidos. Por isso, hoje se diz que os músculos treinados funcionam como um dreno para eliminar metabólitos associados com diabetes, hipertensão e doença das coronárias.
Desde 1960 se sabe que o exercício reduz os triglicerídeos plasmáticos graças a uma ação aumentada da lípase lipoproteína muscular; e que a contração muscular ao recrutar transportadores de glicose GLUT-4 aumenta a utilização de glicose em forma independente da ação da insulina.
A investigação cientifica mostra que a atividade física, é efetiva em prevenir ou tratar algumas das doenças mais comuns que afetam a humanidade no último terço do século XX. O treinamento de resistência, por exemplo, é muito eficaz na redução dos níveis plasmáticos de triglicerídeos, glicose e ácidos graxos livres.  Entretanto, muitos dos mecanismos envolvidos na adaptação dos músculos esqueléticos ao exercício não estão elucidados. Inúmeros sinais fisiológicos e bioquímicos se alteram durante o exercício e desconhecemos os fatores regulatórios que modulam a expressão dos genes que respondem ao exercício. Por isso é importante que a pesquisa científica se mova mais alem dos estudos de correlação e trate de melhor identificar os mecanismos de ação envolvidos na adaptação dos músculos esqueléticos à atividade física. Estas adaptações metabólicas dos músculos esqueléticos ao exercício físico talvez sejam um componente crítico para a prevenção da diabetes tipo II, das doenças coronarianas e da obesidade.


Ref: Marc T. Hamilton and Frank w. Booth. J. Appl. Physiol. 88: 327 - 331