As gorduras e o cérebro
O cérebro é 60 % gordura. Para produzir suas membranas
celulares, o cérebro necessita de uma quantidade de gorduras adequadas. Estas gorduras
pertencem a uma família de lipídios chamada ácidos graxos. Dois ácidos graxos
são considerados essenciais: o ácido linolênico (LA) e o ácido alfa linolênico
(ALA). Eles não podem ser fabricados pelo corpo; chegam através da dieta. O LA é um ácido graxo ômega-6 presente em
azeites vegetais como açafrão, girassol, milho e gergelim. O ALA, também
ômega-6, se encontra em nozes, linhaça, e vegetais de folhas verdes. É preciso
consumir ambos, um não produz o outro.
O LA forma a prostaglandina PGE1, importante para a
liberação de neurotransmissores. Possui propriedades anti- inflamatórias, reduz
a acumulação de fluidos e estimula o sistema imunitário. O AAL origina a
prostaglandina PGE3 que alem de anti-inflamatória e estimuladora do sistema
imunitário, inibe a prostaglandina PGE2. Esta PGE2 é formada principalmente
pelo acido araquidônico (AA) um ômega-6 presente nas graxas das carnes de vaca,
porco, galinha e peru. O ácido araquidônico está presente em todo o corpo e seu
alto consumo, especialmente nas etapas avançadas da vida, aumenta em mais de
40% o risco de demência. A prostaglandina PGE2 é uma substancia altamente
inflamatória causando inchaço e aumento da sensibilidade à dor. Aumenta a viscosidade
do sangue (diminuindo seu fluxo), provoca agregação de plaquetas (aumento da
coagulação sanguínea) e produz espasmos dos vasos sanguíneos. Pode também
ativar em excesso o sistema imunitário com produção de anticorpos que atacam o
cérebro. Todos os fatores que impedem o fluxo de sangue ao cérebro interferem
com a entrega de oxigênio e nutrientes às células cerebrais. Isto diminui a
clareza de pensamento, altera para baixo o humor e dificulta a resposta do comportamento
frente a diferentes situações.
Um ácido graxo ômega-6, chamado ácido gama linolênico (GLA),
é usado na formação da estrutura cerebral embora não seja especificamente uma
gordura cerebral. Melhora as funções cerebrais quando convertida em
prostaglandina PGE1. Alguns pacientes com esclerose múltipla, tratados com GLA apresentaram
diminuição de sintomas.
As membranas sinápticas tem alta concentração de um ácido
graxo chamado docosahexaeonoico (DHA). DHA é um acido graxo Omega-3 encontrado
em peixes como salmão, cavala, sardinha, arenque e enchova. Havendo deficiência
de DHA a integridade das membranas sinápticas estará comprometida. Os neurônios
ou não funcionam bem ou, pior, morrem. DHA é fundamental para manter as membranas
neuronais brandas e flexíveis. As graxas saturadas, ao contrário, tornam as
membranas rígidas. Membranas flexíveis são capazes de alterar as formas dos
receptores ciliares o que é essencial para que os neurotransmissores encontrem
seus locais de união. Um receptor composto de graxa dura é rígido, quase
imóvel; não pode contrair-se nem expandir-se para permitir que o
neurotransmissor se una a ele. A
comunicação entre neurônios sofre curtos-circuitos ou se interrompe. O cérebro
fica com dificuldades em transmitir informação entre seus neurônios e
desenvolver neuroplasticidade. Alem
disso, está demonstrada uma relação positiva entre DHA e níveis de serotonina. Os
ácidos graxos estão envolvidos na conversão de L-triptofano em serotonina.
Nosso organismo utiliza DHA para fabricar terminais nervosas e sinapses,
resultando maior formação de serotonina. O humor fica mais positivo e estável.
DHA também previne o declínio cognitivo, especialmente a doença de Alzheimer.
Outro ômega-3 é o ácido eicosapentaeonico (EPA), associado
como suporte para as atividades da serotonina e da dopamina, ajudando na
regulação do humor. EPA existe em todo o corpo, mas os níveis cerebrais são de
pouca monta. Estão presente, em maior concentração, nos mesmos peixes que contem
DHA. Ajudam a melhorar o fluxo de sangue ao cérebro e diminuem os processos
inflamatórios. Tanto EPA como o DHA são também inibidores do AA.
Alem do acima mencionado, os ácidos graxos essenciais também
ajudam o cérebro facilitando o sistema de segundos mensageiros. Um
neurotransmissor desta forma consegue enviar sinais ao núcleo celular ativando
ou desativando genes. Estes genes enviam sinais para fora das células, criando
mais reações favoráveis a um funcionamento cerebral adequado.
Referência:
Rewire your brain: think your way to a better life. Arden, John B. Wiley,
Inc.2010.
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