Sunday, September 30, 2012

Base molecular da ação dos receptores adrenérgicos


Tomando como exemplo a ativação de um receptor alfa1:

Trata-se de receptor tipo serpentina 7, acoplado à uma proteína Gq; o  componente alfa estimulante  ativa a fosfolipase que atua sobre os lipídios fosfatidil-inositol-trifosfato com formação de inusitol-trifosfato (IP3) e diacil-glicerol(DAG). O IP3 ativa as bombas de cálcio presentes no endoplasma reticular, liberando cálcio que se une à proteína  calmadulin quinase, a qual fosforila as proteínas alvo, como  por exemplo a quinase de cadeia leve (LCK, sigla em inglês) nos músculos lisos. Esta LCK fosforila  a miosina de cadeia leve (MLC) que participa na interação actina-miosina envolvida na contração do músculo liso. Por sua vez, a DAG ativa a proteína quinase C (PKC) e esta fosforila as proteínas alvo.

Tomando como exemplo o receptor adrenérgico alfa2 ativado:

O receptor alfa2 também é do tipo serpentina 7. Ativa a proteína inibitória G (Gi); a porção alfa inibitória acopla-se  ao domínio inibitório da adenil ciclase, resultando em formação diminuída de ATP e de cAMP. Com isso forma-se menos PKA com menor fosforilação das proteínas alvo, resultando funções celulares diminuídas. Por sua vez, as porções beta e gama inibitórias da Gi  abrem os canais de K com saída de potássio da célula; o potencial de repouso da membrana cai de -70 mV para -90 mV, e esta hiper polarização  deriva em inibição da corrente elétrica.

Receptores adrenérgicos beta1, beta2 e beta3:

Os três receptores beta possuem o mesmo mecanismo intracelular de sinalização.  A catecolamina ativa a proteína Gs e seu componente alfa estimulante ativa a adenil ciclase e esta converte ATP em cAMP, elevando seus níveis. A cAMP, como segundo mensageiro, ativa a PKA e esta fosforila as proteínas alvo como, por exemplo, os canais de cálcio, resultando maior atividade celular.

Em resumo:

Alfa1: Gq – IP3 e DAG – cálcio elevado;

Alfa2: Gi – cAMP diminuído – K+ diminuído e Ca++ diminuído;

Beta1,2 e 3: Gs – cAMP elevado – Ca++ elevado.

Wednesday, September 26, 2012

Resposta biológica dos receptores adrenérgicos ao stress


Os receptores que recebem a ação da norepinefrina e da epinefrina se chamam receptores adrenérgicos. Podem ser de tipo alfa ou beta. Estão identificados os subtipos alfa1, alfa2, beta1, beta2 e beta3.
Revisaremos a ação de cada receptor nos diferentes tecidos, em situação de stress agudo, quando o Sistema Nervoso Central  ativa o Sistema Nervoso Autônomo.
Principio geral: os órgãos que ajudam o organismo numa situação aguda de stress (fugir ou lutar) devem ser ativados; os órgãos que não ajudam devem ser inibidos.
Abaixo, apresento uma lista de tecidos identificando os receptores ativados em situação aguda de stress:
Cabelos: no stress os cabelos se eriçam por contração do músculo pilus erector. O receptor adrenérgico ativado é o alfa1.
Olhos: o músculo dilatador da pupila se contrai e a pupila se dilata: os receptores são alfa1. Já o músculo ciliar se relaxa e a lente se alonga, acomodando-se para visão ao longe: os receptores são beta2.
Trato gástrico-intestinal: os músculos lisos longitudinais, responsáveis pelos movimentos peristálticos, devem ser inibidos: tem receptores beta2. Os músculos circulares que controlam os esfíncteres devem contrair-se: os receptores são alfa1. Já os vasos sanguíneos do sistema têm receptores alfa1 porque devem contrair-se.
Glândulas salivares: inibição por estímulo dos receptores alfa2  (boca seca).
Artérias mesentéricas: devem aportar menos sangue aos órgãos; seus músculos lisos se contraem; os receptores são alfa1.
Sistema respiratório: Por estimulação simpática, o Sistema Nervoso Central ativa o centro respiratório porque se necessita mais O2 e maior remoção de CO2. Os brônquios devem dilatar-se, seus músculos lisos devem relaxar-se e, portanto, seus receptores adrenérgicos são beta2. Já os vasos dos brônquios devem-se contrair para evitar hiperemia: seus receptores são alfa1. Os receptores beta1 no trato gástrico-intestinal são, caso excepcional, relaxantes.
Coração: a situação de stress requer maior débito cardíaco, ou seja maior volume sistólico e maior frequência cardíaca. Os receptores são beta1 nos nódulos Sinusal e Atrio—Ventricular, nas células de Purkinje e no miocárdio. Quando se estimula  o nódulo sinusal a autonomicidade (formação de impulso) e a velocidade de contração  (cronotropia) aumentam. O estímulo do nódulo átrio-ventricular resulta em velocidade aumentada (dromotropia +). O estímulo do miocárdio aumenta a força da contração (ionotropia +).
Musculatura lisa do sistema vascular. Pele: contração dos vasos: receptor alfa1. Trato gástrico-intestinal: vaso constrição: alfa1. Rins: vaso constrição: alfa1. Musculatura esquelética: vasodilatação: receptores beta2 . Os brônquios tem receptores beta2 porque necessitam dilatar-se mas a musculatura lisa de seus vasos tem receptores alfa1 para contrair-se e evitar hiperemia.
Circulação cerebral e circulação coronária: são tão importantes que não se regulam pelo Sistema Nervoso Autônomo; são autorreguladas por metabólitos provenientes de suas próprias células. Tem quantidades equiparáveis de receptores alfa1 e beta2.
Metabolismo. Fígado: através da estimulação de receptores beta2 se inibe a glicólise, com aumento da glicogenólise e consequente glicemia. Adipócitos: há estímulo de receptores beta3 com aumento da enzima lípase, resultando lipólise por desdobramento de triglicerídeos à ácidos graxos. Nos músculos esqueléticos os receptores beta2 inibem a passagem de glicose a glicogênio para manter alta a glicose. Aqui aparece uma exceção. Os mesmos receptores beta2 que inibem a formação de glicogênio a partir da glicose, estimulam a enzima ATPase, com transporte de potássio para dentro da célula. Os fusos musculares com demasiada  estimulação simpática perdem sua capacidade de regular as contrações musculares e se produzem tremores. Pâncreas: ativam-se os receptores alfa2 com inibição da liberação de insulina e aumento de secreção de glucagon.
Sistema urinário-genital: os músculos lisos do útero tem predominância de receptores alfa1 na mulher não grávida; na grávida predominam os receptores beta2. A estimulação simpática provoca relaxação do miométrio para não prejudicar o feto. A ereção masculina e a secreção feminina são estimuladas pelo sistema parasimpático; a ejaculação masculina e o orgasmo feminino pelo sistema simpático (mas também entram outros neurotransmissores). Na bexiga urinária, o músculo detrusor se relaxa: tem receptores beta2 predominando sobre os alfa1. O esfíncter urinário interno se contrai: os receptores são alfa1. Quando uma pessoa se urina em situação de stress é porque ocorreu uma disfunção do Sistema Nervoso Autônomo. Nos rins, a porção juxtaglomerular necessita ativar-se para produzir mais renina: seus receptores são beta1. Com a consequente liberação de aldosterona mais água e sódio são retidos.
Glândulas sudoríparas: os receptores alfa1 são ativados e se produz suor.
Durante exercício físico: os receptores alfa1dos vasos sanguíneos podem ser seletivamente bloqueados pela atividade nervosa simpática, permitindo aos receptores beta2 ( que provocam vasodilatação) dominar. Notar que somente os alfa1 nos músculos ativos são bloqueados.  Nos músculos inativos estes receptores permanecem estimulados com  resultante vaso constrição.

Wednesday, September 19, 2012

Sistema Nervoso Autonomo Simpatico


As principais áreas cerebrais responsáveis pela estimulação dos sistemas nervosos autônomos estão localizadas no hipotálamo. Na porção anterior medial está localizado o sistema parassimpático e na parte posterior medial o sistema simpático. Ambos estão estimulados pelas áreas do córtex cerebral envolvidas com audição, visão e memória, bem como pelas estruturas do sistema límbico. Em situações de stress, tanto a córtex como o sistema límbico enviam estímulos ao hipotálamo posterior ao mesmo tempo em que inibem o hipotálamo anterior. A estimulação do hipotálamo posterior, por sua vez, ativa um grupo de neurônios que compõem um trajeto chamado de via polineuronal descendente; esta leva os impulsos através da medula espinhal desde a primeira vértebra torácica até a segunda vértebra lombar. Em todas estas vértebras, a informação é levada de neurônios chamados pré-ganglionares, até os gânglios para-vertebrais. Neste ponto, o estímulo passa a outro neurônio, chamado pós-ganglionar e segue um trajeto até o tecido alvo. Quase todos os neurônios desta via são colinérgicos; seu neurotransmissor é a acetilcolina. Nos gânglios, eles atuam sobre receptores colinérgicos de tipo nicotínico (nas glândulas sudoríparas os receptores são muscarínicos), gerando um potencial de ação que se transmite até a terminação nervosa e daí  a um receptor no tecido alvo. Neste ponto, o neurotransmissor liberado é a norepinefrina. Uma segunda via simpática, não passa pelos gânglios; se dirige diretamente a medula da glândula adrenal, onde libera acetilcolina que vai estimular os receptores das células medulares. Estas, neste momento, liberam epinefrina na corrente sanguínea. Esta epinefrina chega a todos os tecidos que apresentem receptores adrenérgicos, estimulando-os onde se encontrem. A medula adrenal é o resultado evolutivo de uma fusão de gânglios que perderam seus axônios.

Os dois tipos de neurônios envolvidos na transmissão do sistema simpático são denominados pré e pós-ganglionar. Um neurônio pré-ganglionar é mais curto, se origina na região tóraco-lombar da medula espinhal e se dirige a um gânglio, para-vertebral, onde faz sinapse com um neurônio pós-ganglionar. Este, por sua vez, se dirige aos tecidos, e em sua parte terminal se sintetiza a norepinefrina.

Na parte terminal do neurônio, se concentra um aminoácido, a tirosina, proveniente de proteínas dos alimentos. A molécula tirosina possui um anel, dihidroxibenzina, (chamado de anel catecol), uma carboxilase, um grupo amina e hidroxilas. Por ação da enzima tirosinahidroxilase,  a tirosina se transforma em DOPA (dihidroxifenilalanina) e esta, por ação da enzima dopadecarboxilase, perde a carboxila e se transforma em dopamina. No citoplasma, a dopamina corre o risco de ser destruída por uma enzima chamada monoaminoxidase (MAO), existente na superfície das mitocôndrias. Para que isto não ocorra, a dopamina é bombeada para dentro de vesículas presentes no citoplasma neuronal. Se este neurônio fosse dopaminérgico, a dopamina seria mantida inalterada dentro da vesícula até o momento de sua liberação. Como o neurônio em questão é adrenérgico, dentro de suas vesículas está presente uma enzima chamada dopaminabetahidroxilase, que converte dopamina em norepinefrina. Quando este neurônio é ativado o potencial de ação chega à terminal, se abrem os canais de sódio, e em seguida os canais de cálcio. Este cálcio ajuda a membrana da vesícula a se fundir com a membrana neuronal e a norepinefrina é então liberada. Após, a membrana vesicular é separada da membrana neuronal e retorna, sem norepinefrina, ao interior da terminal do neurônio para ser reutilizada. A norepinefrina  liberada no espaço intersináptico, vai agir tanto sobre a superfície pós-sináptica quanto sobre a pré-sináptica.

Monday, September 03, 2012

Termômetro quebrado e pânico com o mercúrio



Quebrar um termômetro de mercúrio é um acontecimento doméstico banal, desde que este instrumento se tornou acessível. No passado, as esferas de mercúrio resultantes do rompimento eram usadas  como brinquedo pelas crianças. Posteriormente, começaram a aparecer na imprensa histórias dramáticas de sequelas neurológicas atribuidas ao mercúrio. Como consequencia, hoje em dia se observa na Internet uma situação de histeria relacionada com acidentes domésticos e contaminação com mercúrio.
 
Uma coisa é a exposição aguda ao mercúrio; outra, são os resultados de uma exposição crônica. Também é importante a quantidade de mercúrio envolvida e, finalmente, a forma em que este se apresenta.
 
As três formas químicas do mercúrio são:
  • Mercúrio elementar, também chamado metálico ou liquido.
  • Compostos inorgânicos de mercúrio.
  • Compostos orgânicos de mercúrio como metil-mercúrio (existente em peixes e mariscos) e etil-mercúrio (como o mertiolato).
O mercúrio existente nos termômetros é o elementar, ou metálico, ou liquido. A quantidade em um termômetro é de aproximadamente 3 gramas. Este mercúrio se evapora lentamente em temperatura ambiente e rapidamente em temperaturas mais elevados. O mercúrio derramado pode seguir evaporando-se por vários meses. Se a quantidade derramada fosse muito maior, a aspiração deste vapor poderia causar inicialmente problemas respiratórios agudos como pneumonites, bronquiolites e edema pulmonar. A aspiração contínua de vapor em quantidades altas pode causar alterações neurológicas (como mudança de comportamento e tremores) e mesmo hipertensão sanguínea.  

A quantidade de mercúrio liberada por um termômetro quebrado não chega a níveis comprometedores. Remover o mercúrio derramado e arejar a habitação por 15 minutos praticamente elimina o mercúrio inicialmente evaporado. Atenção ao método de limpeza. Nunca usar um aspirador porque aumenta o grau de evaporação.

A pele e o tubo digestivo absorvem muito pouco mercúrio metálico. Se a criança engolir uma bolinha, nada vai acontecer alem da crise de pânico da família. Por precaução, porque o mercúrio é classificado como substancia de risco, se recomenda tomar as seguintes medidas:
  • Ventilar o local, abrindo as janelas por 15 minutos;
  • Enquanto se ventila, sair do local;
  • Usar luvas para recolher o mercúrio derramado e os vidros quebrados;
  • Recolher as bolhinhas de mercúrio com um cartão, ou aspirar com uma garrafa de plástico vazia ou com uma seringa;
  • Limpar a superfície afetada com pano húmido;
  • Colocar todo o material numa sacola de plástico e fecha-la;
  • Entregar a sacola em um dos locais existentes para destino de material contaminante ou reciclagem.
Também é importante saber o que não fazer:  
  • Não coloque a sacola na sua lata do lixo;
  • Não toque o mercúrio sem usar luvas;
  • Não use aspirador de pó;
  • Não levante poeira no local;
  • Não jogue o mercúrio na pia ou na patente;
  • Não afaste o mercúrio com vassoura;
  • Não lave roupas com mercúrio. Coloque esta roupa na mesma sacola junto aos outros elementos contaminantes.
Em resumo: é altamente improvável que o mercúrio derramado por um termômetro quebrado possa afetar a saúde dos presentes. As medidas sugeridas são tomadas por precaução, uma vez que o mercúrio está classificado como substancia de risco. 

Fontes:

National Health Institute: NHS Choices (WWW.nhs.uk)

Children`s exposure to Elemental Mercury. Centers for Disease Control and Prevention, Agency for Toxic Substances and Disease Registry. February 2009.