Friday, June 14, 2013

As gorduras e o cérebro


O cérebro é 60 % gordura. Para produzir suas membranas celulares, o cérebro necessita de uma quantidade de gorduras adequadas. Estas gorduras pertencem a uma família de lipídios chamada ácidos graxos. Dois ácidos graxos são considerados essenciais: o ácido linolênico (LA) e o ácido alfa linolênico (ALA). Eles não podem ser fabricados pelo corpo; chegam através da dieta.  O LA é um ácido graxo ômega-6 presente em azeites vegetais como açafrão, girassol, milho e gergelim. O ALA, também ômega-6, se encontra em nozes, linhaça, e vegetais de folhas verdes. É preciso consumir ambos, um não produz o outro.
O LA forma a prostaglandina PGE1, importante para a liberação de neurotransmissores. Possui propriedades anti- inflamatórias, reduz a acumulação de fluidos e estimula o sistema imunitário. O AAL origina a prostaglandina PGE3 que alem de anti-inflamatória e estimuladora do sistema imunitário, inibe a prostaglandina PGE2. Esta PGE2 é formada principalmente pelo acido araquidônico (AA) um ômega-6 presente nas graxas das carnes de vaca, porco, galinha e peru. O ácido araquidônico está presente em todo o corpo e seu alto consumo, especialmente nas etapas avançadas da vida, aumenta em mais de 40% o risco de demência. A prostaglandina PGE2 é uma substancia altamente inflamatória causando inchaço e aumento da sensibilidade à dor. Aumenta a viscosidade do sangue (diminuindo seu fluxo), provoca agregação de plaquetas (aumento da coagulação sanguínea) e produz espasmos dos vasos sanguíneos. Pode também ativar em excesso o sistema imunitário com produção de anticorpos que atacam o cérebro. Todos os fatores que impedem o fluxo de sangue ao cérebro interferem com a entrega de oxigênio e nutrientes às células cerebrais. Isto diminui a clareza de pensamento, altera para baixo o humor e dificulta a resposta do comportamento frente a diferentes situações.
Um ácido graxo ômega-6, chamado ácido gama linolênico (GLA), é usado na formação da estrutura cerebral embora não seja especificamente uma gordura cerebral. Melhora as funções cerebrais quando convertida em prostaglandina PGE1. Alguns pacientes com esclerose múltipla, tratados com GLA apresentaram diminuição de sintomas.
As membranas sinápticas tem alta concentração de um ácido graxo chamado docosahexaeonoico (DHA). DHA é um acido graxo Omega-3 encontrado em peixes como salmão, cavala, sardinha, arenque e enchova. Havendo deficiência de DHA a integridade das membranas sinápticas estará comprometida. Os neurônios ou não funcionam bem ou, pior, morrem. DHA é fundamental para manter as membranas neuronais brandas e flexíveis. As graxas saturadas, ao contrário, tornam as membranas rígidas. Membranas flexíveis são capazes de alterar as formas dos receptores ciliares o que é essencial para que os neurotransmissores encontrem seus locais de união. Um receptor composto de graxa dura é rígido, quase imóvel; não pode contrair-se nem expandir-se para permitir que o neurotransmissor se una a ele.  A comunicação entre neurônios sofre curtos-circuitos ou se interrompe. O cérebro fica com dificuldades em transmitir informação entre seus neurônios e desenvolver neuroplasticidade.  Alem disso, está demonstrada uma relação positiva entre DHA e níveis de serotonina. Os ácidos graxos estão envolvidos na conversão de L-triptofano em serotonina. Nosso organismo utiliza DHA para fabricar terminais nervosas e sinapses, resultando maior formação de serotonina. O humor fica mais positivo e estável. DHA também previne o declínio cognitivo, especialmente a doença de Alzheimer.
Outro ômega-3 é o ácido eicosapentaeonico (EPA), associado como suporte para as atividades da serotonina e da dopamina, ajudando na regulação do humor. EPA existe em todo o corpo, mas os níveis cerebrais são de pouca monta. Estão presente, em maior concentração, nos mesmos peixes que contem DHA. Ajudam a melhorar o fluxo de sangue ao cérebro e diminuem os processos inflamatórios. Tanto EPA como o DHA são também inibidores do AA.
Alem do acima mencionado, os ácidos graxos essenciais também ajudam o cérebro facilitando o sistema de segundos mensageiros. Um neurotransmissor desta forma consegue enviar sinais ao núcleo celular ativando ou desativando genes. Estes genes enviam sinais para fora das células, criando mais reações favoráveis a um funcionamento cerebral adequado.

Referência: Rewire your brain: think your way to a better life. Arden, John B. Wiley, Inc.2010.

Monday, June 03, 2013

Trabalho e Energia Muscular

TRABALHO E ENERGIA MUSCULAR

A única fonte direta de combustível para os músculos é o trifosfato de adenosina, ou ATP (do inglês Adenosine Tri Phosphate). Os músculos utilizam varias fontes de energia para manter níveis adequados de ATP: fosfocreatina, glicogênio muscular, glicose sanguínea, ácidos graxos provenientes dos tecidos adiposos e, em menor escala, aminoácidos de cadeias ramificadas.
Um grande esforço muscular que dure poucos segundos utiliza ATP proveniente do fosfato de creatina. Estudos indicam que os estoques de creatina nos músculos esqueléticos se esgotam nos primeiros 30 segundos de atividade extenuante. Tomando o atletismo como exemplo, podemos dizer que os primeiros 100 metros de uma corrida podem ser feitos praticamente sem respirar. Depois de 30 segundos e até 3 minutos o ritmo diminui porque se esgota a fosfocreatina; passa a predominar a energia derivada do glicogênio armazenado nos músculos e da glicose sanguínea. Estes hidratos de carbono podem ser oxidados rapidamente formando piruvato, lactato e CO2. Com isso, se origina o ATP requerido para a atividade muscular. Entretanto, esta taxa de síntese de ATP é muito inferior a da proveniente da fosfocreatina. Ao redor dos 3 minutos de corrida, as reservas de glicogênio nos músculos se esgotam; se acumula acido lático causando contraturas e dores musculares. Para manter o ritmo é preciso mover intensamente a glicose sanguínea, com consequências para o Sistema Nervoso Central (tontura e desmaio): ”corra muito devagar e perca ou corra muito rápido e desmaie”.
Durante estes eventos, uma fração inicialmente muito pequena (mas que aumenta gradativamente) da energia consumida, se origina do processo de oxigenação aeróbica da glicose. Ou seja, da formação de ATP nas mitocôndrias das células musculares em presença de oxigênio.
Os músculos diferem em sua capacidade de produzir ATP por meio de reações aeróbica ou anaeróbicas. As fibras brancas, de reação rápida, com poucas mitocôndrias, são as fibras anaeróbicas. Elas produzem ATP e liberam acido lático como produto temporário.

As fibras aeróbicas produzem ATP usando hidratos de carbono, ácidos graxos e aminoácidos de cadeia ramificada como substratos; estas fibras musculares possuem muitos mitocôndrios e o processo se chama glicólise aeróbica. Este processo de oxidação é um produtor muito efetivo de energia, formando 36-38 moléculas de ATP por uma molécula de glicose, resultando dióxido de carbono e água. Entretanto, a glicólise aeróbica, embora efetiva, é um processo relativamente lento. A glicólise anaeróbica fornece uma rápida formação de ATP para esforços de curta duração, enquanto que a glicólise aeróbica oferta energia para períodos longos. Os velocistas tem predominância de fibras musculares brancas, produtoras de ácido lático, ao passo que corredores de longa distância possuem abundancia de fibras vermelhas de oxidação.